segunda-feira, 14 de março de 2011

Dilma com Hebe

Entrevista exclusiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, ao programa Hebe, da apresentadora Hebe Camargo, na Rede TV!


Palácio da Alvorada, 15 de março de 2011


Hebe: Gente, vocês não vão acreditar: estou aqui no Palácio da Alvorada. Agora, será que ela vai me receber? É um grande sonho. Vamos ver. Din-don! Ah! Ai! Oh, meu Deus, é verdade!



Presidenta: Muito prazer em te receber.



Hebe: Me belisca...



Presidenta: Não vou te beliscar.



Hebe: ...para ver se é verdade! Gente, vocês não têm ideia. Todo mundo pensa que apresentador de televisão tem uma vidinha gostosa, tranquila. Não é nada disso. Eu, hoje, com 60 anos de carreira – carreira –, eu estou vivendo um momento que eu ainda não caí na real. Eu não sei se eu estou aqui em Brasília, no Palácio da Alvorada, que é esta maravilha que a gente está mostrando para vocês! Gente, privilégio de entrevistar a primeira mulher a assumir a Presidência da República. Eu estou inteirinha arrepiada, porque as emoções me arrepiam, e eu estou profundamente emocionada. Estou vendo uma mulher diferente daquela que eu via. É uma mulher que, pode não parecer, mas ela tem uma doçura no jeitinho de olhar e de falar, que até você pode dizer: “Ah, a Hebe está louca”. Porque, não sei, eu sou uma pessoa muito sincera. Eu não via essa doçura, essa coisinha boa. Tanto que eu estou aqui, eu olhei e disse: meu Deus, como você é linda! Uma pele maravilhosa, um sorriso delicioso, e o olhar, o olhar é bárbaro! Estou falando com a nossa presidenta Dilma Rousseff, que é uma honra, uma honra que eu não sei como explicar.



Presidenta: A honra é minha, Hebe, porque falar com você também é uma coisa que emociona, porque você é a nossa representante mulher na TV brasileira. Então, por isso, também para mim é um momento de emoção. Agora, eu fico muito feliz que você tenha ficado emocionada.



Hebe: Muito.



Presidenta: E também muito agradecida, porque acho importante mostrar para as pessoas este Palácio que é delas, porque, na verdade, o Palácio da Alvorada representa...



Hebe: O povo.



Presidenta: ...o povo brasileiro, a nação brasileira.



Hebe: Isso. E eu soube de uma notícia bonitinha hoje, que agora está aberto para que as pessoas possam visitar.



Presidenta: É verdade.



Hebe: Então, têm vindo caravanas, não é?



Presidenta: Vem, vem tanto...



Hebe: Isso é bárbaro!



Presidenta: Principalmente, é interessante porque vêm também estudantes.



Hebe: Isso!



Presidenta: Jovens estudantes, meninos e meninas, que vêm aqui...



Hebe: Isso é histórico, não é?



Presidenta: É histórico, é um, vamos dizer, um símbolo do que é, eu acho, o espírito do povo brasileiro, que é um espírito moderno mas, ao mesmo tempo, muito simples, porque este Palácio, se você olhar, ele é um palácio bonito, mas ele é simples, ele é tranquilo. Então, é por isso que eu te falo que eu estou muito feliz (incompreensível).



Hebe: Você sabe o que é interessante, porque eu, em 1955, eu tive um programa que chamava “O mundo é das mulheres”. Só que nós, mulheres, naquela época, não tínhamos essa chance de...



Presidenta: O mundo não era nosso.



Hebe: Não, absolutamente não. E a gente levava um homem, para a gente querer provar para eles que o mundo era nosso. Só que a gente não conseguia nunca porque a mulher não tinha, realmente, oportunidade. E hoje eu estou aqui entrevistando a primeira mulher presidente. Isso não é uma coisa maravilhosa, Dilma?



Presidenta: Olha, eu acho que é, sim, porque nós somos metade, um pouco mais da metade da população brasileira...



Hebe: É.



Presidenta: ...e seria justo que nós tivéssemos uma representação equivalente a essa nossa participação, não é? Mas eu sempre acredito numa coisa: nós somos a metade da população brasileira, mas a outra metade são nossos filhos. Então, na verdade, nós temos essa capacidade de representar...



Hebe: Que maravilha!



Presidenta: ...as mulheres e também as crianças, os jovens, não é?



Hebe: Como é que você está se sentindo, assim, no Palácio, morar num palácio?



Presidenta: Olha, morar no Palácio não é muito bom.



Hebe: Não é gostoso, não é?



Presidenta: Não. Não, porque o Palácio não foi feito para as pessoas morarem, não é? Eu acho que foi feito para visitarem. Mas, pela representação, eu tenho de morar aqui. Mas sempre que eu posso, eu fujo lá para o Torto porque o Torto é uma casa...



Hebe: Já é mais...



Presidenta: ...antiga, meio...



Hebe: Meio torta.



Presidenta: ...mais velha, meio torta, de fazenda, mais aconchegante, mais gente.



Hebe: Agora, me conta uma coisa que eu tenho muita curiosidade: ser presidente, presidenta, não modifica completamente a sua vida? Você perdeu completamente a liberdade. Você, por exemplo, você não pode sair daqui de Brasília e ir visitar a sua filha lá no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, ver sua neta, não é?



Presidenta: Netinho.



Hebe: Netinho, ver seu netinho, porque se você for para lá, vai um monte de seguranças, vai um monte de jornalistas. Você chega lá, tem um monte de jornalistas. Quer dizer, você perdeu a privacidade. Como é que é isso para você?



Presidenta: Olha, não é, de fato, uma coisa boa você perder a possibilidade de você andar na rua, de você entrar numa padaria, de você tomar um cafezinho, de comprar um livro ou olhar uma roupa. Mas tem suas compensações. Por quê? Porque eu acho que é um período, não é? Isso é da democracia. Nós estamos... Eu sou... Eu não sou... Eu não nasci presidente da República, não é? Eu estou presidente nesse período e tenho de desempenhar da minha melhor maneira possível, porque é uma grande honra, afinal de contas...



Hebe: Nossa!



Presidenta: ...ser presidente de um país como o Brasil.



Hebe: Que vem crescendo...



Presidenta: E que é o seu país, onde você aprendeu a andar, a falar, a viver. E chegar a ser presidente da República é uma coisa muito importante.



Hebe: Claro, claro.



Presidenta: E aí, Hebe, tem uma coisa, das meninas, que eu acho importante. Uma vez eu estava, na campanha eleitoral, num aeroporto e aproximou-se de mim um casal que tinha uma filha de uns sete, oito... seis, sete, oito anos. A mãe virou para mim e disse: “Você podia falar com a minha filha?”. Eu falei: olha, com todo prazer. “Porque a minha filha quer fazer uma pergunta para você.” Eu falei: então, faça. Como é que ela se chama? “Vitória.” Eu falei: Vitória, o que é que você quer me perguntar? Ela falou para mim assim: “Eu quero saber se mulher pode” – bem seriazinha – “se mulher pode”. Eu falei: se mulher pode o quê, Vitória? “Ela falou: “Ser presidente?”. Eu falei: olha, mulher pode, agora. E aí eu lembrei...



Hebe: Ah, que bárbaro!



Presidenta: ...de uma coisa, Hebe: sempre me perguntam se eu queria... quando eu era pequena, se eu queria ser presidente.



Hebe: Nunca passou isso na sua cabeça?



Presidenta: Não, não passou pela minha cabeça.



Hebe: Como é que você entrou...



Presidenta: Eu queria ser bailarina.



Hebe: Ah, mentira!



Presidenta: Eu queria ser bailarina, depois eu quis ser do Corpo de Bombeiros. Criança quer ser aquilo que ela acha...



Hebe: Que ela admira.



Presidenta: ...mais bonito e admira, não é?



Hebe: E como é que você entrou para a política?



Presidenta: E hoje as meninas podem ser presidenta.



Hebe: Podem!



Presidenta: É isso que eu acho que também significa... a minha condição de presidente também significa que eu tenho...



Hebe: Provou que é possível.



Presidenta: ...que fazer o melhor governo possível para provar que eu vou honrar as mulheres, as meninas e o sonho dos brasileiros. Mas também...



Hebe: Como é que você entrou para a política...



Presidenta: Olha, eu entrei para a política, eu tinha...



Hebe: ...se você queria ser bailarina e bombeiro?



Presidenta: Hebe, mas aí, bailarina e bombeiro, eu queria ser com uns quatro, cinco anos. Depois eu fui evoluindo na vida. Eu entrei na política, Hebe, no Colégio Estadual de Minas Gerais, porque eu saí do colégio de freiras...



Hebe: Em Belo Horizonte?



Presidenta: Em Belo Horizonte.



Hebe: Ai, que lindo!



Presidenta: Eu saí do colégio de freiras... estudei no Sion até a quarta série ginasial. Era assim que se chamava o final...



Hebe: Quarta série.



Presidenta: É, quarta série.



Hebe: É.



Presidenta: E eu fui fazer o Clássico – porque se fazia Científico ou Clássico –, eu fui fazer no Colégio Estadual. E lá no Colégio Estadual eu entrei para a política.



Hebe: Ah, jura?



Presidenta: É. Sabe o que era naquela época?



Hebe: Mas, então, foi muito cedo.



Presidenta: Foi, eu devia ter uns 16 anos.



Hebe: Nossa!



Presidenta: Naquela época o Brasil vivia...



Hebe: Que coisa incrível!



Presidenta: ...um momento de muita, vamos dizer assim, turbulência. Então, a minha geração foi uma geração que se motivou para achar... nós queríamos mudar o mundo.



Hebe: Olha, com 16 anos!



Presidenta: Então, eu entrei com 16 anos para a política.



Hebe: Então tinha que ser... com 16 anos!



Presidenta: É.



Hebe: Você veio caminhando como deve ser, não é? Ninguém pode ser presidente da noite para o dia.



Presidenta: Eu não fui...



Hebe: Tem... vai caminhando, caminhando...



Presidenta: É verdade.



Hebe: ...até chegar.



Presidenta: Eu nunca fui nem vereadora, nem...



Hebe: Governadora.



Presidenta: ...governadora, nem deputada, mas eu tive a minha vida ligada ao serviço público, não é? Eu fui secretária de Fazenda de Porto Alegre. Eu desconfio que eu fui a primeira secretária de Fazenda de capital, porque foi em [19]86...



Hebe: Você nasceu em Minas.



Presidenta: Eu nasci em Minas e depois...



Hebe: E foi morar em Porto Alegre.



Presidenta: ...eu fui morar no Rio Grande do Sul.



Hebe: Por que você foi morar para lá?



Presidenta: Olha, eu fui morar para lá...



Hebe: Conheceu alguém?



Presidenta: Conheci alguém, porque meu marido, meu ex-marido é gaúcho...



Hebe: É gaúcho.



Presidenta: ...então, eu fui morar lá.



Hebe: Ah!



Presidenta: Logo depois que eu saí da prisão, eu fui para Porto Alegre. Eu fiquei...



Hebe: Saiu da prisão?



Presidenta: Eu fiquei na prisão de [19]70... [19]71 e [19]72. Eu fui presa política no Brasil.



Hebe: Gente do céu!



Presidenta: É. Ali em São Paulo. Ali em São Paulo, eu sempre passo ali pela Avenida Tiradentes e olho, tem um portal que eles derrubaram. Não sei se você se lembra, tinha um presídio, tinha...



Hebe: Sim, sim, tinha.



Presidenta: Foi derrubado para fazer a estação do metrô. Hoje é uma estação do metrô. Até tem um portal bonito, que é o portal antigo do presídio.



Hebe: Gente, pensa um pouco nessa coisa maravilhosa da sua vida! Dezesseis anos, começou a se envolver com política. Depois, muito tempo depois, presa política.



Presidenta: É, não muito, não é? Com uns 19, 20 anos. Eu nunca faço o cálculo direito da idade.



Hebe: É melhor, é melhor não, é melhor não fazer. E, de repente, presidente da República. Isso é uma trajetória... Você já pensou em escrever um livro? Tem que escrever!



Presidenta: Atualmente eu estou “vivendo” o livro.



Hebe: Como é que você dá conta, meu amor? A que horas que você tem que se levantar todos os dias?



Presidenta: Olha, eu, geralmente, chego lá no Palácio entre 9h e 9h30. Aí eu saio do Palácio entre nove [21h] e nove e meia [21h30]... às dez horas da noite [22h], às vezes.



Hebe: Para?



Presidenta: Aí... eu não almoço fora, eu almoço no Palácio mesmo.



Hebe: Certo.



Presidenta: Então, eu tenho uma agenda corrida de quase doze horas.



Hebe: Minha mãe! E quando você...



Presidenta: Já foi pior, Hebe.



Hebe: Já foi pior?



Presidenta: Foi pior.



Hebe: Jura?



Presidenta: Já.



Hebe: Mas eu fico imaginando...



Presidenta: Mas no governo você trabalha... você tem de trabalhar muito.



Hebe: Não, eu fico pensando se você, quando se deita, você não desliga. Você deve ficar pensando assim: amanhã eu vou tomar tal atitude quanto à coisa... Porque é você que determina e eles têm que cumprir, não é?



Presidenta: É, mas...



Hebe: Na minha opinião...



Presidenta: ...eu trabalho também muito com equipe. Meio como você, aqui você tem uma equipe.



Hebe: Exato, é verdade.



Presidenta: Essa equipe te ajuda a colocar as coisas... a colocar o programa no ar. A mesma coisa comigo. Eu tenho uma equipe, que são os ministros e os assessores dos ministros, que ajuda a gente a fazer as coisas acontecerem no governo, porque o que é difícil fazer, no governo, é fazer acontecer. Por exemplo, o meu programa mais importante, ele diz respeito às mulheres também: é o Programa de Erradicação da Pobreza. Porque, Hebe, este país...



Hebe: Ah, nem me fale, nem me fale!



Presidenta: ...este país pode ser um país rico, mas ele, para ser um país rico... Nós estamos crescendo muito hoje, nós somos um país respeitado no mundo inteiro, nós tiramos quase 27 milhões de brasileiros da pobreza, mas ainda tem muita gente na pobreza. E para o Brasil ser um país rico, ele tem de ser um país sem miséria.



Hebe: Eu acho também, é verdade. Dói o coração da gente quando a gente vê aquelas pessoas que não têm nada e nunca tiveram.



Presidenta: E nós vamos tirar as pessoas da pobreza...



Hebe: Ai, que maravilha!



Presidenta: ...com duas coisas: com renda, portanto, com trabalho. As pessoas têm direito de ter seu trabalho para manterem sua vida. Quando elas não têm a possibilidade de trabalhar por algum motivo, a gente tem de ter um programa social, como o Bolsa Família. Mas tem uma coisa, que eu acho que é a forma mais importante de a gente tirar as pessoas da pobreza: educação.



Hebe: Ai, é verdade.



Presidenta: Educação.



Hebe: Isso! Olha, saúde...



Presidenta: Porque creche...



Hebe: ...saúde e educação.



Presidenta: Saúde e educação.



Hebe: Eu acho que são as duas coisas... não é?



Presidenta: E saúde a gente sabe como é importante, que é outra questão que eu me comprometi a melhorar...



Hebe: Aliás, posso falar com você?



Presidenta: ...a saúde brasileira.



Hebe: Posso falar com você?



Presidenta: À vontade, neste programa.



Hebe: Você lançou um programa que eu amei, o negócio do remédio para hipertensão e diabetes.



Presidenta: Diabetes.



Hebe: Gratuito nas farmácias, em todo o Brasil, porque as pessoas não têm dinheiro, são caros os remédios.



Presidenta: E são duas doenças que a pessoa...



Hebe: Exato!



Presidenta: ...pode viver bem...



Hebe: Exato!



Presidenta: ...se ela se medicar.



Hebe: Exato! Eu achei bárbara essa campanha. Quer dizer, de cara, você já “pim-pum-pim-pá”. Isso é que é maravilhoso! Não tem que esperar muito tempo...



Presidenta: “Pim-pum-pim-pá”, eu gostei muito.



Hebe: Gostou? Eu achei bárbaro, eu achei bárbaro!



Presidenta: Agora eu vou falar assim, vou falar assim também. Agora é para vocês fazerem assim, ó: “pim-pum-pim-pá”. Porque, na verdade, eu acho que isso mostra... é assim que a gente tem de fazer.



Hebe: Isso é importante, é importante. Não pode ficar uma coisa... ah, lançou, mas...



Presidenta: Enrolando, não é?



Hebe: ...só daqui a... Não, tem que ser “pá-pim-pum”. Agora, me diga uma coisa. Você está tão chique com essa roupinha azul bonita, um tom de azul gostoso. Você se preocupa, por exemplo, quando você vai sair “Ai, que roupa eu vou por”, e de repente você põe, chega num lugar, não tem nada a ver com o momento...



Presidenta: Isso acontece nas melhores famílias, não é?



Hebe: A gente chega e...



Presidenta: Acontece.



Hebe: “Ih, não era isso.” Já aconteceu, não?



Presidenta: É... Eu te digo o seguinte, Hebe. A gente tem de ter a roupa mais fácil possível...



Hebe: Isso.



Presidenta: ...sabe por quê? Porque muitas vezes, se você tiver uma roupa... por exemplo, eu uso muito calça comprida porque é mais fácil para subir e para descer. Mas se você estiver com uma roupa que seja simples e que seja, assim, sóbria, você vai estar bem em qualquer lugar.



Hebe: É verdade.



Presidenta: É óbvio que se eu estiver numa festa, eu não posso ir de calça comprida, não é?



Hebe: Depende.



Presidenta: Mas você olha que...



Hebe: Depende, põe uns brilhinhos...



Presidenta: É, põe uns brilhinhos e pode. É só botar um brilhinho. As mulheres, elas estão usando muito essa roupa mais casual, não é? Então, eu não tenho tido muito problema, não. Eu me visto rápido e saio.



Hebe: E o que você acha que é indispensável, você como presidenta?



Presidenta: Ah, eu gosto muito do preto.



Hebe: Ah, é?



Presidenta: É.



Hebe: Porque o preto é chique, não é?



Presidenta: É, e é simples, não é?



Hebe: É.



Presidenta: Você bota uma roupa preta, um vestido...



Hebe: Isso! Bota um colarzinho de pérolas...



Presidenta: ...e foi.



Hebe: ...e tal, está bem, está... Você é vaidosa?



Presidenta: Eu sou vaidosa? Eu acho que eu sou, mas, assim, eu sou mais distraída, uma pessoa distraída com... Tem horas que eu me distraio.



Hebe: Jura?



Presidenta: É, eu me distraio.



Hebe: Não passa isso para a gente, não.



Presidenta: Vou te explicar em que eu me distraio. Eu sou capaz de botar um brinco e esquecer do outro. Mas depois eu acabo botando o outro.



Hebe: Você sabe que hoje em dia as mulheres estão usando umas bolsas imensas. Até você falou que a minha era pequena. Mas foi... pequena... foi coincidência, foi para combinar com o sapato. O que você acha, por exemplo, que as bolsas das mulheres são um absurdo. O que você acha indispensável na bolsa, quando você sai?



Presidenta: Olha, a bolsa, você põe tanta coisa, não é?



Hebe: Eu não ponho muito, não.



Presidenta: Eu ponho, eu ponho... eu tenho de ter óculos porque eu troco de óculos...



Hebe: Para ler eu também preciso de óculos.



Presidenta: ...eu tiro lente de contato, boto lente de contato. Então, tem meus óculos, batom e um pozinho.



Hebe: Batom é imprescindível, não é?



Presidenta: É.



Hebe: Eu também acho.



Presidenta: Agora, eu tenho muito papel em bolsa, não é?



Hebe: Ah, eu imagino.



Presidenta: Eu carrego papel, carrego...



Hebe: E coisas que te dão, papelzinho que você vai... dá um papelzinho, vai ver é uma cartinha.



Presidenta: É, muito. Tem o resumo, tem... ih, eu tenho muito papel.



Hebe: Eu estava vendo este penteado seu, está tão bonitinho. É o Kamura, não é?



Presidenta: É o Kamura.



Hebe: Kamura. Você... Nós duas tivemos um sério problema...



Presidenta: É verdade.



Hebe: ...e as pessoas acharam... tinham medo da quimioterapia porque cai todo o cabelo, cai tudo, não é? E acharam... eu dei uma foto minha careca, que saiu na Veja. E todo mundo disse: “Meu Deus, a Hebe saiu careca na revista!”. Mas eu fiz de propósito, para mostrar para as pessoas...



Presidenta: Que não tem nenhum mal.



Hebe: Cabelo nasce de novo.



Presidenta: Não, até um dia me perguntaram o que eu achava quando eu fiquei careca. Você sabe, eu não sei se você achou... se você sentiu isso, eu achei uma certa... quando a gente toma banho e a água bate...



Hebe: E o cabelo começa a cair...



Presidenta: Não, não, e saiu já. O meu cabelo já tinha caído. Eu gostava muito de tomar banho, porque mulher tem aquele negócio do cabelo, não é?



Hebe: É, é.



Presidenta: Você nunca pode ficar molhando o cabelo. E a partir dali, eu tive uma grande vantagem, uma compensação.



Hebe: Maravilha!



Presidenta: Eu molhava a minha cabeça todos os dias, lavava ela bem lavada e...



Hebe: Eu também, caiu tudo, caiu tudo.



Presidenta: Caiu o meu também.



Hebe: É engraçado, mas eu achei que não.



Presidenta: O meu caiu todinho.



Hebe: O meu também.



Presidenta: Eu usei peruca.



Hebe: Eu também. Nossa!



Presidenta: Já não aguentava mais a peruca.



Hebe: É, a gente acaba cansando, não é? Engraçado.



Presidenta: Tanto é que o meu, quando eu tirei, ele era mínimo.



Hebe: E agora está tão bonitinho. E voltou mais forte também?



Presidenta: Voltou mais forte. Você estava me dizendo que o seu também, não é?



Hebe: O meu voltou forte e uma quantidade...



Presidenta: Agora, sabe, Hebe, eu acho que as pessoas têm de saber que o câncer é uma doença completamente dominada hoje, que se as pessoas tratarem, se as pessoas forem ao médico e fizerem seu diagnóstico...



Hebe: Porque quando pega no começo...



Presidenta: ...precoce...



Hebe: ...tem a possibilidade da cura.



Presidenta: Da cura.



Hebe: Agora, se vai... “Não vou ao médico, não faço exame...”, aí, minha filha, quando chega...



Presidenta: E a mulher, principalmente, tem de cuidar do câncer de mama.



Hebe: É verdade.



Presidenta: A mulher tem de fazer isso. E o homem, o de próstata.



Hebe: E agora... É verdade. Coitados dos homens, não?



Presidenta: Eles também têm de se cuidar nisso, não?



Hebe: É, claro. Eles têm medo e vergonha. Não tem que ter vergonha numa hora dessas, não é? Tem que...



Presidenta: Não.



Hebe: Tem que se cuidar.



Presidenta: Tem de enfrentar, não é?



Hebe: Claro. Escute, agora você está absolutamente curada.



Presidenta: Estou, Hebe, estou e... obviamente eu tenho...



Hebe: Cuidados.



Presidenta: ...eu tenho de tomar cuidados. Exemplo: a gente tem sempre de fazer exames...



Hebe: Certo.



Presidenta: Você vai, cada vez, fazendo com uma distância maior. Agora, eu me sinto hoje muito bem, recuperei, assim, integralmente. Agora, eu faço muita ginástica, acho que todo mundo devia fazer, e fazer também caminhada. Você tem de cuidar da saúde...



Hebe: Eu não faço ginástica.



Presidenta: Ah, mas é bom fazer.



Hebe: E também caminhada, eu não gosto.



Presidenta: Não, Hebe?



Hebe: Não. Você está mandando, eu vou fazer.



Presidenta: Mas... ! Pode saber que tem...



Hebe: Escute, você tem algum santo, assim, da sua predileção?



Presidenta: Olha, eu gosto muito de Nossa Senhora Aparecida.



Hebe: Ai, ela é bárbara. Ela é minha companheira.



Presidenta: É a nossa, não é?



Hebe: É, é verdade.



Presidenta: É a do Brasil.



Hebe: Eu sou amiga das duas: da Aparecida e de Fátima.



Presidenta: Você também é de Fátima?



Hebe: Sou, eu já fui várias vezes à Fátima, e elas me ajudaram muito também. Elas iam comigo para o hospital, elas estão aqui comigo em Brasília. Eu adoro, eu tenho uma fé, assim, inabalável. Eu tenho pena de quem não tem fé, não acredita em Deus, porque Deus é um só em qualquer religião, não é?



Presidenta: Tem uma frase bonita do João Guimarães Rosa, que disse: “Deus existe mesmo quando não se acredita nele”.



Hebe: Olha, que maravilha! Escute, eu estava vendo aqui o seu... embaixo do seu relógio tem um...



Presidenta: Tem.



Hebe: Isso aqui, para que é? É para tirar...



Presidenta: É o seguinte: eu tenho uma amiga que é casada com o governador da Bahia, a Fátima. E a Fátima, ela sempre me deu...



Hebe: Um olhinho.



Presidenta: ...o olhinho, uma proteção lá da Bahia, dos orixás. E este olhinho, eu achei ele muito...



Hebe: Uma teteia.



Presidenta: ...muito bonitinho, e também é um olho grego.



Hebe: Não, você já imaginou o que deve ter de olho gordo, agora, em cima de você?



Presidenta: Mas eu acho, assim, que este aqui é um olho magro...



Hebe: Aliás, deixa eu te falar uma coisa.



Presidenta: ...não é um olho gordo.



Hebe: Deixa eu te mostrar uma coisa que eu trouxe. Não é presente, é uma brincadeirinha. Mas foi uma coincidência também. Veja!



Presidenta: Deixa eu ver o que é.



Hebe: Pode rir, viu?



Presidenta: Posso?



Hebe: Pode rir.



Presidenta: Ah, que legal. Você trouxe para mim um olho.



Hebe: Olha a coincidência! Um olho, para tirar... porque eu disse: nossa, deve ter tanto olho gordo em cima dela, inclusive dos homens, não é?



Presidenta: Olha só!



Hebe: Porque os homens devem estar enciumadíssimos, não é?



Presidenta: E olha que bonito! Olha! É igual a este, não é?



Hebe: É igualzinho. Nunca mais olho gordo vai pegar em você.



Presidenta: Esse, esse é o olho... ele é o olho grego ou o olho turco, ele é o olho da proteção.



Hebe: Conforme o lugar que você for, você pode pendurar aqui.



Presidenta: E você sabe...



Hebe: Pendura num cordãozinho.



Presidenta: E você sabe onde você tem de pendurar? É aqui, ó.



Hebe: Ah, jura?



Presidenta: É, nas...



Hebe: Ah, porque quando você vira...



Presidenta: É nas costas.



Hebe: Isso.



Presidenta: Mas este aqui a gente pendura também na porta do quarto.



Hebe: Isso, é verdade. E este aqui é... porque como você passou por um problema, como eu tive um problema, isso aí é um símbolo da nossa...



Presidenta: Da nossa sobrevivência...



Hebe: Isso.



Presidenta: ...e da sobrevivência... Ah, o [símbolo da] vida!



Hebe: O [símbolo da] vida!



Presidenta: Que lindo, Hebe! Muito obrigada.



Hebe: Esse é em prata.



Presidenta: Mas lindo mesmo!



Hebe: É bonitinho, não é? Todo mundo gosta. Eu falei: eu vou levar para ela.



Presidenta: Muito bonito! Porque é o símbolo da vida.



Hebe: Símbolo da vida, que é o que nós gostamos: a vida, a vida.



Presidenta: E eu acho sempre muito importante contar para as pessoas que é uma coisa que se supera...



Hebe: Isso.



Presidenta: ...se supera. Aqui está o símbolo da superação.



Hebe: Isso. Agora, me diga uma coisa: dizem que você é louca por música.



Presidenta: Sou.



Hebe: Eu sou tarada por música, eu não vivo sem música. E dizem que você sabe de cor músicas da jovem guarda.



Presidenta: Sabia bastante, Hebe.



Hebe: Não sabe mais?



Presidenta: Não, ainda sei algumas. Eu não sei... Eu começo e cantarolo depois?



Hebe: Você sabe alguma do Rei?



Presidenta: Do Roberto Carlos?



Hebe: Aham.



Presidenta: Sei.



Hebe: Qual?



Presidenta: Sei várias.



Hebe: Qual, qual?



Presidenta: “Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes para esquecer”, e tem uma que eu gosto muito: “Você, meu amigo de fé”...



Hebe: “Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada...”



Presidenta: Agora, eu não tenho a sua voz, não é? Não posso cantar.



Hebe: Você nunca cantou?



Presidenta: Eu cantei, porque a gente perde o senso crítico em algumas horas na vida, mas eu não tenho voz para cantar.



Hebe: Não?



Presidenta: Não.



Hebe: Mas gosta?



Presidenta: “Você, meu amigo de fé...”, aí, ó, desafinei.



Hebe: Ah, que bonitinha!



Presidenta: Agora, ele é...



Hebe: Nunca, agora muito menos.



Presidenta: ...uma unanimidade no Brasil, não é?



Hebe: Ele é. Éverdade, é verdade.



Presidenta: Sem dúvida nenhuma. De todas as idades, de todas as categorias.



Hebe: É verdade, é verdade, ele merece. Você tem alguma mania?



Presidenta: Tenho, tenho. Olha, eu tenho uma grande mania: eu não durmo sem ler.



Hebe: Jura?



Presidenta: É.



Hebe: E ler não prejudica o sono?



Presidenta: Não.



Hebe: E você sonha com aquilo que você leu, ou não?



Presidenta: Também não.



Hebe: Você sonha muito?



Presidenta: Sonho.



Hebe: Eu sonho, também, uma barbaridade, nossa senhora!



Presidenta: Eu também sonho. Tem época em que eu não lembro o que eu sonhei, mas eu sonho.



Hebe: É uma pena quando a gente sonha um sonho gostoso e, quando acorda...



Presidenta: Percebe...



Hebe: ...esquece.



Presidenta: Esquece. Ou então, quando percebe que era só sonho.



Hebe: É só sonho. Isso também é. Eu sonho muito, e é só sonho. Você tem medo de escuro?



Presidenta: Não. Eu tive...



Hebe: De que você tem medo? Barata?



Presidenta: Ah, barata, barata... Não é medo, não é, é uma...



Hebe: Nojo, não é?



Presidenta: ... é uma relação complicada a que a gente tem com barata, não é?



Hebe: É horrível! Uma vez a Fernanda Montenegro, essa deusa da nossa televisão e do teatro e do cinema foi ao meu programa. Parecia que a gente não tinha assunto para falar, porque nós começamos a falar de barata. Aí, daí um pouco ela disse: “Hebe, olha o que nós estamos falando! De barata!” Porque eu falei que eu não tenho coragem de matar barata, assim, com o pé, por causa do barulho que faz “trrr”, não é? Faz “trrrr”! Então, eu não sou capaz. Aí, ela disse: “Ah, vamos mudar de assunto!” Porque barata é nojento mesmo, não é?



Presidenta: É. Barata, eu não acredito que alguém goste, não.



Hebe: Será que tem alguém...?



Presidenta: Acho que não!



Hebe: Mas eu estava falando do negócio de escuro, e tem gente que fala que aqui no Palácio tem fantasma. Você acredita nisso?



Presidenta: Não. Você sabe por que devem falar isso? Porque aqui, o sol de Brasília é muito forte, e o concreto aqui trabalha. Então, de noite todo mundo escuta ele trabalhando, trabalha, mexe a madeira também. Mas não tem não, viu? Pelo menos, assim...



Hebe: Não. E se tiver, deve ser o Juscelino.



Presidenta: Até onde eu vi, não... é seguro, porque eu não encontrei ninguém.



Hebe: Ai, meu Deus do céu! Bom, vamos ver o que eu queria mais saber. Eu queria saber tanta coisa, mas eu também não quero te prender, porque eu sei que você tem mil compromissos. Foi uma honra... Agora, aquela Dilma brava que a gente sabe que existe, como é que é a Dilma brava? Porque eu estou vendo aqui é uma doçura, uma doçura!



Presidenta: Posso te falar uma coisa, Hebe? Uma vez eu perguntei assim: você já ouviu falarem, você já ouviu falar que algum homem, algum político é bravo, homem? Eu nunca ouvi.



Hebe: É verdade.



Presidenta: Você vê que não tem... e aí eu cheguei à conclusão de que só existiam homens meigos, e que a única pessoa brava era eu! O que acho que acontece, Hebe, é que a mulher, ela não é vista como sendo capaz de dirigir, de liderar. Então, a liderança e a direção são vistas com uma certa...



Hebe: Dureza.



Presidenta: ...(incompreensível) e uma nota falsa na questão da mulher, que a mulher tem que ser só meiga, bem quietinha. Eu acho que a visão... Eu sou uma pessoa que exijo. Eu trabalho...



Hebe: Está certo, certíssimo.



Presidenta: Eu tenho de prestar contas para o povo brasileiro. Como eu tenho de prestar contas para o povo brasileiro, eu me cobro por isso. E eu cobro as pessoas da mesma forma como eu me cobro. Quando a gente está na vida pública, é minha obrigação, é minha obrigação trabalhar para que as coisas melhorem no meu país. Eu quero sair do governo com a honra de ter conseguido fazer o Brasil avançar mais um passo no caminho do desenvolvimento. Eu quero que melhore a vida de cada um dos brasileiros. E aí, tem de trabalhar, não tem outro jeito, só tem esse.



Hebe: É. Mas, olha... E tem que...



Presidenta: Porque eu não tenho varinha de condão.



Hebe: Porque é como você diz: você exige... Isso é importante...



Presidenta: Eu exijo.



Hebe: ...senão, você vem aqui para quê?



Presidenta: Podem ter certeza de que eu vou exigir.



Hebe: Com certeza.



Presidenta: Mas eu vou exigir, primeiro, de mim. Porque se a gente não exigir primeiro da gente...



Hebe: Isso!



Presidenta: ...você não dá o exemplo e nem dá o respeito.



Hebe: Olha, nós estamos falando tanto do Palácio, e agora que ele está aberto para visitação, seria muito eu pedir para a gente dar uma andadinha assim, ...



Presidenta: Não.



Hebe: ...só para mostrar para o público.



Presidenta: Podemos andar.



Hebe: Você já pensou quanta gente que está nos assistindo, que adoraria estar aqui, ver como é que é, e não tem possibilidade?



Presidenta: Se estiver em Brasília, ele terá possibilidade porque o Palácio está aberto.



Hebe: Quais são os dias?



Presidenta: Que eu saiba, é na terça e na quarta.



Hebe: Terça e quarta pode vir, não paga nada?



Presidenta: Não.



Hebe: E a gente vai poder dar uma andadinha?



Presidenta: Total.



Hebe: Vamos?



(A Presidenta Dilma acompanha Hebe Camargo na visita ao Palácio da Alvorada)



Presidenta: Aqui nós vamos ter, sempre, os quadros que o Banco Central...



Hebe: Ah, diz que tem um Portinari, não é?



Presidenta: Está lá, ele.



Hebe: É lá, está lá o Portinari.



Presidenta: Está lá. Não. Estão lá, os dois Portinari.



Hebe: Olha que coisa!



Presidenta: Eu estou falando... a tapeçaria do Di [Cavalcanti] está ali.



Hebe: Ah, do Di Cavalcanti?



Presidenta: Do Di Cavalcanti.



Hebe: Tapeçaria. Vamos até lá. Ah, que linda, adoro ver tapeçaria.



Presidenta: (incompreensível)



Hebe: Ai, que coisa linda!



Presidenta: Olha outro Di [Cavalcanti], olha outro Di [Cavalcanti].



Hebe: É do meu tempo! Olha o Di Cavalcanti, que lindo!



Presidenta: Bonito, não é? E é ali que está o JK, olha ali.



Hebe: Que gracinha! Magrinho!



Presidenta: E aqui tem uma outra sala que também é muito bonita.



Hebe: Aqui tem reuniões, não?



Presidenta: Tem. Às vezes a gente faz reuniões. Eu estou me mudando para cá, ainda. Eu gosto muito desta tapeçaria.



Hebe: Essa, de quem é?



Presidenta: É um...



Hebe: Kennedy.



Presidenta: ... tapeceiro muito bom, chamado Kennedy.



Hebe: Kennedy. É da Bahia.



Presidenta: É da Bahia. Eu acho belíssimas as cores.



Hebe: (incompreensível) um pássaro (incompreensível). E aquele ali, de quem será?



Presidenta: Aquele ali, eu não me lembro. Não é Djanira, não, porque os Djanira eu catei todos.



Hebe: Olha as imagens, que lindas!



Presidenta: É Lenira? Da Motta e Silva. Não! Djanira!



Hebe: Djanira!



Presidenta: Nós duas estamos ruins de olho, heim? Engraçado! Eu tenho de avisar que sobrou um Djanira aqui. Nós vamos fazer uma exposição só de pintoras mulheres: Djanira, Tarsila...



Hebe: Ah, você está prestigiando as mulheres, heim! Quantas ministras você tem?



Presidenta: Nove.



Hebe: Nove? E os homens não ficam meio indignados?



Presidenta: Não, não.



Hebe: Ficam...!



Presidenta: Não, mas você sabe que não? Acostumaram. Eu acho que, talvez, no início ficassem. Agora, eu vou trazer o Abaporu, da Tarsila, que está no Malba, lá em Buenos Aires.



Hebe: Ah, nossa!



Presidenta: Ele me...



Hebe: Tem que vir, tem que vir.



Presidenta: Essa é a igrejinha.



Hebe: Ai, que bonitinha!



Presidenta: Olha, vamos lá.



Hebe: Vamos lá.



Presidenta: Ela é a igrejinha do Niemeyer.



Hebe: É uma teteia, mesmo.



Presidenta: Você vê que ela é um caracol.



Hebe: E é simples, é simples, não é? “Esta capela foi benta e dedicada à Nossa Senhora da Alvorada. 1961.” Olha! Olha, que lindo! Ah, meu Deus!



Presidenta: Olha que simplicidade.



Hebe: Oh, meu Deus!



Presidenta: E lá no teto, para você ver, que lindo.



Hebe: Gente, que coisa mais linda!



Presidenta: Não é a coisa mais simples?



Hebe: E a simplicidade! Agora, saindo da igreja, deixa eu te falar uma coisa que eu ouvi hoje e me preocupei muito. Eu sei que é uma coisa que te preocupa demais. Inclusive, quando você estava em campanha, você ficou muito impressionada e preocupada. É que aqui, em Brasília, está um volume muito grande de crack.



Presidenta: De crack.



Hebe: Que os jovens estão se acabando por causa do crack. É uma coisa difícil de combater, não?



Presidenta: É, mas a gente tem de combater de todas as formas, viu, Hebe. Nós – na semana passada, se não me engano foi na quinta-feira ou quarta-feira... foi quinta? foi quinta-feira – nós lançamos um programa com as 46 universidades federais, estaduais e municipais – tem umas duas municipais – nós lançamos um programa de formação de todas as pessoas que trabalham com a prevenção e também a assistência e o atendimento no tratamento de drogados. Nós vamos ter de ter tratamento especializado para eles nas clínicas especializadas, nas enfermarias de hospitais. Tem de especializar médico, enfermeiro, agente de saúde e agente comunitário.



Hebe: Maravilha! (palmas)



Presidenta: Agora, isso é uma parte. A outra parte é - ela é o meu grande desafio – junto com o ministro da Justiça, nós fazermos uma política, não só uma política, mas uma ação de combate ao crack nas fronteiras brasileiras.



Hebe: Isso! Isso é fantástico!



Presidenta: Na fronteira.



Hebe: Isso, olha, deixa eu parar mais uma vez (palmas). Isso é sensacional! Porque é de lá que vem!



Presidenta: É de lá que vem.



Hebe: Ah, que maravilha! (palmas)



Presidenta: Nós vamos combinar todas as Forças: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Forças Armadas, para que a gente tenha um policiamento de fronteira...



Hebe: Eeeeh, que maravilha! Bárbaro, bárbaro, bárbaro!



Presidenta: ...mais efetivo. Agora eu quero te mostrar uma coisa, porque eu acho que é muito bonita, que é a fala, ali, escrita. Olha aqui, olha: “Deste planalto central,...”



Hebe: Ah, coisa linda essa (incompreensível).



Presidenta: “...desta solidão que em breve se transformará no cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”



Hebe: “Brasília, 2 de outubro de 1956.”



Presidenta: “Juscelino...”



Hebe: “Juscelino Kubitschek de Oliveira.”



Presidenta: Muito bonito!



Hebe: Lindo, lindo!



Presidenta: Essa parede... é muito estranho, não é?



Hebe: (incompreensível) mas é linda, é linda. Olha que coisa! Ah, meu Deus, o que eu faço, agora, Presidenta, para te agradecer, heim?



Presidenta: Oh, Hebe, você não faz nada!



Hebe: Não. O que eu faço? Quer que eu fique de joelhos?



Presidenta: Não, não quero!



Hebe: Olha que eu fico, heim! Olha, porque realmente não existem palavras para eu dizer obrigada, que é... é nada o obrigada. Porque você, agora, é um grande exemplo de mulher que nós temos, e que vai ser seguido por muita gente, vai ser seguido, mesmo.



Presidenta: Eu é que te agradeço, também, por você ter me visitado.



Hebe: Olha, eu adorei você, de verdade, e nunca mais eu vou esquecer este momento que eu vivenciei aqui com você.



Presidenta: E você pode ter certeza...



Hebe: Aaah!

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