segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Por onde anda Geraldo Vandré, que hoje completa 87 anos?

Por onde anda Geraldo Vandré, que hoje completa 87 anos? 

Longe dos palcos há anos, Geraldo Vandré é considerado uma das figuras mais misteriosas da MPB 

Hoje é aniversário de Geraldo Vandré, compositor de "Disparada" e "Caminhada (Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores)" — duas músicas que se tornaram hinos dos movimentos de resistência contra a ditadura militar. O cantor de 87 anos, no entanto, se afastou da vida pública após voltar do exílio nos anos 70, e hoje vive recluso num apartamento no centro de São Paulo com a aposentadoria de quando trabalhou na Sunab (Superintendência Nacional do Abastecimento), dizem.

Nascido em João Pessoa no dia 12 de setembro de 1935, Geraldo Vandré conquistou o público em 1966, quando sua composição "Disparada", em parceria com Théo de Barros e cantada por Jair Rodrigues, ficou empatada no primeiro lugar do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record ao lado de "A Banda", de Chico Buarque. Dois anos depois, "Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores)" ficou em segundo lugar do III Festival Internacional da Canção da TV Globo. A vencedora foi "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim — mas a decisão foi vaiada pelo público, que exigia que o prêmio fosse para Vandré. 

Na biografia não autorizada "Geraldo Vandré - Uma Canção Interrompida", o biógrafo Vitor Nuzzi conta que Geraldo Vandré pediu que os fãs parassem de vaiar: "Olha... Sabe o que eu acho? Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda merecem o nosso respeito [aplausos e vaias]. A nossa função é fazer canções. A função de julgar, neste instante, é do júri que ali está".

Ainda em 1968, com a outorga do AI-5, Vandré foi exilado. Em entrevista à revista Trip em 2010, seu ex-empresário, José Guedes, contou que no dia da apresentação no Festival Internacional da Canção, eles já receberam o aviso do regime militar: "Mandaram um recado dizendo que era para a gente desarmar a nossa montaria e sumir". 

Geraldo Vandré ficou exilado em países da América do Sul e da Europa. Quando retornou ao Brasil, em 1973, parecia ter mudado radicalmente de posicionamento: em entrevista ao "Jornal Nacional", afirmou que suas músicas não tinham o objetivo de fazer denúncias contra a ditadura e defendeu o regime. 

"Ele foi convencido, essa parte é nebulosa mesmo e só ele sabe. Ele estava muito amargo quando voltou, em depressão mesmo. Acho que deve ter sido torturado no Chile", disse sua amiga, Telé Cardim, em entrevista à revista Trip em 2010. No mesmo ano, Vandré disse em entrevista à GloboNews que nunca foi torturado. O biógrafo Vitor Nuzzi levanta em seu livro a hipótese de que a entrevista foi uma condição para que o regime militar permitisse o retorno de Vandré.ao Brasil, mas o cantor também não confirmou essa teoria. 

Ele passou a morar num quartel da Força Aérea Brasileira e compôs a música "Fabiana" em homenagem à Aeronáutica. Até hoje, em suas raras aparições públicas, Vandré costuma usar o logo da FAB num boné ou na camisa. Jair Rodrigues, intérprete de "Disparada", reencontrou Vandré nos anos 80. À revista Trip, ele relembrou: "Eu cheguei todo animado e disse: 'Vandré'. Aí ele me olhou e falou: 'Eu sou o Geraldo Pedrosa, o Geraldo Vandré morreu em 1968".

Seu último show como Geraldo Vandré foi em 1982, no Paraguai. Depois, subiu ao palco em raríssimas ocasiões: em 1995, em São Paulo, num evento organizado pelo IV Comando Aéreo Regional (IV COMAR), em 2014, quando a cantora estadunidense Joan Baez veio ao Brasil pela primeira vez desde que foi proibida de se apresentar aqui pelo regime militar, e em 2018, quando foi homenageado no Festival Aruanda em João Pessoa por seu trabalho na trilha sonora do filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (1985). Na ocasião, disse à plateia: "Desde de 1968 que praticamente não canto no Brasil, canto aqui porque é a Paraíba".

Na entrevista à revista Trip em 2010, Telé Cardim contou que o amigo está lúcido, apesar de isolado: "Ele vive do jeito dele, com a aposentadoria de quando trabalhava na Sunab. Vive de uma maneira muito simples, com pouco dinheiro. Ele cozinha, lava suas roupas e frequenta aqueles restaurantes populares perto do prédio dele, mas sabe cuidar de si e até faz exercícios em casa".

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