segunda-feira, 30 de maio de 2011

Morgana, Edmilson e a transição na Secretaria Nacional de Cultura do PT

por Neide Aparecida, Roberto Gonçalves de Lima e Glauber Piva*

O PT iniciou uma transição na sua Secretaria Nacional de Cultura - SNCULT. Deixa a função Morgana Eneile e assume Edmilson Souza. Essa mudança foi necessária pela renúncia de Morgana que, ao compor a nova equipe do Ministério da Cultura, precisou deixar o cargo. Vale observar que ainda que silenciosa e indireta, como prevê o estatuto do PT em casos excepcionais, essa alteração renova energias e exige reconhecimentos.

A Morgana é uma liderança nova que demonstra muita determinação e capacidade política. Ela compôs o Coletivo da SNCULT já na sua primeira formação, em 2003. A disposição dela à política foi decisiva para a sua eleição em 2008 e, também, para que a ministra Ana de Hollanda a convidasse para a sua assessoria. Os militantes de cultura, de dentro e de fora do PT, devem ficar atentos à trajetória dessa museóloga que desenvolveu um belo trabalho neste período. Morgana é daquelas militantes de vida longa, sobretudo por manter os olhos no horizonte.

A renúncia dela acontece apenas a alguns meses do fim do seu mandato. Em novembro o PT deverá promover as eleições em todos os setoriais e a cultura teria, necessariamente, uma nova composição do Coletivo Nacional. De qualquer maneira, vale dizer que a Morgana terá um longo caminho pela frente, agora no MinC e, depois, com os desafios que a vida apresenta.

A chegada de Edmilson, por outro lado, não é exatamente uma novidade. O Edmilson também está no Coletivo Nacional de Cultura do PT desde 2003. Na época ele ainda era secretário de cultura da cidade de Guarulhos, tendo sido um dos responsáveis pela criação do Fórum Petista de Secretários Municipais de Cultura do PT-SP e, de certa maneira, participou da articulação pela criação da própria SNCULT-PT.

Com o Fórum, no período 2001-2004, o PT de SP viveu um período muito interessante. Éramos vários e nos articulamos: Marco Aurélio Garcia/Celso Frateschi em São Paulo, Valter Pomar em Campinas, Heitor Gaudênci em Piracicaba, Galeno Amorim em Ribeirão Preto, Lauro Monteiro/Gilsamara Moura em Araraquara, Telma Olivieri em São Carlos, João Roberto Souza em Jacareí, Izídio Souza em Rio Grande da Serra, César Domiciano em Embu, Roberto Ramos em Jandira, Hélvio Tamoio em Rincão, Vanderlei Paizinho em Santo André, José Tadeu Mota em Diadema, nós mesmos (Neide Aparecida em Franca, Roberto Lima em Ribeirão Pires e Glauber Piva em Votorantim), o próprio Edmilson em Guarulhos, e alguns outros, de algumas outras cidades.

Nossa articulação nesse Fórum serviu para romper com o isolamento a que gestores municipais de cultura estavam submetidos, e tal experiência significou tanto para qualificar a gestão em nossos municípios que fez com que adotássemos as bandeiras de lutar por um sistema público de cultura no Brasil e pela construção da SNCULT.

Esse tempo passou, mas sabemos que é esse mesmo espírito que continua animando o companheiro Edmilson. Atualmente ele é vereador em sua cidade e terá um desafio gigantesco pela frente. A função do Secretário Nacional de Cultura do PT não é apenas representar o PT na relação com o MinC. Muito pelo contrário. Ao secretário, além de compor a direção do PT, cabe assumir a responsabilidade pela organização do debate conceitual do que o partido propõe para a cultura brasileira, dialogar com gestores municipais, estaduais e federais e com o movimento cultural que se amplia e se fortalece a cada dia, acompanhar o trabalho do legislativo federal na regulamentação da cultura como um dos direitos fundamentais da cidadania, organizar seminários, debates, publicações etc. Tudo isso com poucos recursos e pouca estrutura. Mas não só. Em agosto, o PT vai realizar o seu 5º. Congresso Nacional e fazer uma reforma estatutária e institucional, o que exigirá, não apenas do Edmilson, mas de todo o Coletivo, muito trabalho.

Como se percebe, se por um lado Edmilson é uma liderança política experiente e comprometido com a democratização das políticas de cultura no país, por outro ele terá muito trabalho e pouco tempo. O mandato para o qual foi eleito será curto, mas sua disposição, com toda certeza, é gigantesca.

Não interessa, agora, discutir a qual corrente interna do PT ele pertence, nem quais são seus planos para depois deste período de transição. Neste momento, o importante é saber que o Edmilson foi eleito por consenso, tem a confiança de todas as forças que compõem a Secretaria de Cultura do PT e que poderá contar com o trabalho, a inteligência e o companheirismo de muita gente.

À Morgana, deve ficar um sonoro e eloqüente grito de gratidão. É preciso reconhecer seu grande trabalho, seu talento e sua disposição. Ao Edmilson, a certeza de que carregará muita responsabilidade. Num prazo curto, terá muito que fazer. A ele e a ela, registramos aqui nosso compromisso renovado de seguirmos juntos, seguros de que a cultura não se reduz ao supérfluo e aos padrões do mercado, mas deve ser tratada como direito.

Neide Aparecida é historiadora
Roberto Gonçalves de Lima é dramaturgo
Glauber Piva é sociólogo

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