segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pragmatismo ou Deterioração Ideológica

por Carlos Saraiva, Núcleo de Base Sérgio Buarque de Hollanda


A chegada do PT com Lula ao governo, levantou várias questões para serem analisadas. A luta de classes se acirrou, mas ficou coberta sob o manto do antipetismo e do anti lulismo. As medidas de Lula na perseguição de um espirito de nação, sem confronto ideológico com a elite dominante, e uma politica social inclusiva e participativa, com a instituição de um mercado de massas, neutralizou a disputa politica no seio da sociedade. O antilulismo, passou à dar lugar ao Lulismo. A oposição mais ativa e ferrenha se localizou no parlamento, sobretudo no Senado e de maneira mais agressiva e ideológica na grande imprensa. A politica econômica, aparentemente sem afetar os interesses do capital, utilizou a estabilidade, para junto com outras ferramentas monetárias e fiscais, implantar politicas microeconômicas. Essas politicas microeconômicas, calcadas nas empresas estatais, sobretudo os bancos, como o BB, Caixa Econômica Federal, BNDES e outros, estabeleceu um forte mercado interno de massa. Essa politica junto com benefícios sociais, transferência de renda, aumento do salário mínimo, possibilitou uma importante distribuição de renda. O discurso da oposição foi ficando cada vez mais difícil. A politica externa, independente, corajosa e não alinhada, elevou o Brasil a um grande protagonismo internacional. Essa politica, contraditoriamente, deu um certo discurso à oposição. A mistificação cínica da defesa dos direitos humanos, foi um fator à ser explorado, mas sobretudo a “ousadia” de executar uma politica independente do Império. A ofensiva da oposição, em especial da grande mídia, abriu algumas feridas e deixou à nu muitas contradições e equívocos, que o PT precisa analisar seriamente. O foco da oposição se deslocou e fixou-se no antipetismo, explorando o “moralismo” e uma “ética” com viés elitista e de preconceito de classe disfarçado. Esse discurso sempre sensibilizou um segmento importante de nossa chamada classe média, de uma parte da “intelectualidade”, sobretudo da esquerda tradicional, muitos hoje ex Petistas. Alem é claro de uma parte da igreja. O episódio mais emblemático foi o célebre “mensalão”. O PT foi convidado à comparecer ao espetáculo eleitoral, pela elite dominante com a competitividade que o momento exigia e o fez pragmaticamente com as mesmas ferramentas que a direita sempre utilizou. Ao ser descoberto o caixa dois, o PT passou à ser parte do “clube”. Ora eles são iguais a nós. Por isso terão de ser tratados de maneira diferente. Mas caixa dois, apenas, não sensibiliza, não atinge o imaginário. Precisamos de um simbolo mais forte, que caracterize uma pratica petista por excelência. Foi cunhado assim o “mensalão”. E funcionou, pois hoje as mesmas práticas, nos outros partidos, levam o mesmo nome simbólico, e no imaginário social definitivamente colado ao PT. O mesmo agora, com a consultoria do PT. E novamente o PT se iguala aos outros, mais um clube para conviver junto. O tratamento deve ser diferenciado, ora o “enriquecimento ilícito”. E mais descobre-se agora, que as “consultorias”, podem além de tráfico de influencias, servirem de “lavanderias” para lavagem de dinheiro. Mais um símbolo, pendurado no pescoço do PT, para atingir o imaginário social. E “La Nave va”.
Precisamos entender que o anticomunismo que focava, no tempo da guerra fria e do “socialismo real”, os comunistas como os inimigos à serem abatidos. Finda a “guerra fria” e após derrocada do “socialismo real”, os inimigos a serem abatidos, são agora os petistas. E assim precisamos entender e atuar como verdadeiros representantes de esquerda, politicamente pragmáticos, dentro dos limites que as contradições sociais nos ditam sem abandonarmos os compromissos doutrinários e sobretudo nosso papel na disputa ideológica. Caixa dois não é um problema legal, nem moral e sim fere nossa ética ideológica. E fere, porque passamos à atuar no submundo politico da promiscuidade do público com o privado. O caixa um também o é, mas funciona como uma droga ainda licita, mas que nos adoece politicamente da mesma maneira, pois nos fragiliza, como reféns dos mesmos interesses privados. As consultorias também , devemos saber os interesses em jogo e nosso comprometimento em todo o processo. A preferencia deve ser no mundo do trabalho e organizações ou movimentos sociais. É difícil ser de esquerda sim, ou aceitamos fazer parte desse processo ideológico ou desistimos. O que fazer? Fazer o embate com a direita mostrando suas contradições, seu cinismo e seu compromisso com a privatização do Estado, concentração da renda e a demonização dos movimentos sociais. Ao mesmo tempo nos livrarmos dessas “drogas”. É preciso nos submetermos à uma desintoxicação. Essa desintoxicação deverá ser feita com uma profunda autocritica. O nosso pragmatismo não pode ser exercido por uma limitação das condições objetivas auto impostas subjetivamente. E muito menos por desvios ideológicos. O pragmatismo exacerbado na aceitação desse jogo imposto pela classe dominante pode nos levar à temida deterioração ideológica. A esperança ainda existente no PT pela sociedade, os movimentos sociais e agora a classe ascendente não pode ser traída. Somos vencedores, somos grande e respeitados, temos o maior líder operário de nossa politica e da politica mundial. Temos agora uma brava guerreira mulher liderando nosso país. Isto tudo não pode ser jogado na lata do lixo da história.

Carlos Saraiva

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