quarta-feira, 22 de junho de 2011

O PT, O Governo DILMA e a Conjuntura.

por Carlos Saraiva e Saraiva, do Núcleo de Base Sérgio Buarque de Hollanda

O partido deve fazer uma profunda reflexão da conjuntura politica . Analisar o que mudou na mobilidade social, na conformação dos segmentos que a constituem e a resultante correlação de forças . É importante fazer essa análise, sobretudo comparando os governos Lula e o atual governo Dilma. Lula precisou de um acordo com o setor empresarial, necessário naquele instante. Achou, simbolicamente na escolha do vice presidente, um empresário , respeitado por sua história de vida, atuação parlamentar, que lhe granjeou legitimidade e admiração. A aliança politica de centro esquerda, teve uma construção inteligente tanto do ponto de vista politico como ideológico. Alem de juntar partidos de esquerda, democráticos, excluiu a principal direita emergente, o PSDB, a velha direita PFL/DEM, sustentáculo da ditadura militar, anticomunista, antiinternacionalista e subserviente do imperialismo internacional. E acolheu, abrigados, sobretudo no conservador PMDB, alguns representantes das velhas oligarquias de base rural. Estes últimos, embora criticados à esquerda e cinicamente à direita, foram importantes na disputa com a direita emergente, dita moderna, urbana, intelectualizada, um papel carbono desbotado da velha UDN. Esta composição de forças, mantendo o PT hegemônico, e o apoio, embora critico, dos movimentos sociais, permitiu ao governo, mesmo sem confrontos, trazer para a superfície da sociedade setores antes submersos e marginalizados. O sucesso econômico e a inserção internacional, proporcionaram ganhos e reconhecimento do setor empresarial e financeiro, dissipando a “desconfiança”. Embora a oposição de classe se mantenha, a disputa politica foi neutralizada. Este processo originou algumas perdas, ressentimentos e ou “decepções”, aguçadas pelo episódio de 2005, “espetacularizado” e “moralizado” pela grande mídia que se manteve vigilante, como o grande partido oposicionista. A oposição à esquerda, partidária, foi residual e sem poder de aglutinação. Revelou ainda o oportunismo “putrefato” do PPS que rumou definitivamente para a direita. Lula se firmou como o grande líder nacional e o reconhecimento de estadista como um dos maiores lideres de esquerda mundial. A disputa por sua sucessão consolidou o PSDB como a grande direita nacional, ressuscitando a velha UDN, inclusive nos métodos, alijando o PFL que teve de mudar de nome, secundado pelo patético PPS. Mesmo assim fez sua sucessora, quebrando mais uma vez  um tabu. Depois de elegermos um operário, elegemos a primeira mulher de nossa república. O que temos agora como conformação politica partidária e social? O PT como um partido nacional, importante por seu número, mas melhor distribuído em todos os segmentos sociais, capilarizado regionalmente e muito bem representado institucionalmente. O PSDB, um partido de direita, de quadros, reproduzindo a antiga UDN, tentando, ainda confuso em sua identidade, formular uma politica “moderna”, mas com forte cunho conservador, elitista, preconceituoso. O PMDB, reproduzindo o antigo PSD com uma mescla de oligarquias decadentes e o desejo de reproduzir como caixa de ressonância os desejos do cotidiano de uma classe média conservadora mas não “orgânica”, tenta nostalgicamente representar uma resistência civilista democrática. Os outros partidos à direita sobrevivem de maneira marginal, de interesses personalizados e ou corporativos. À esquerda, a maioria mantendo uma fidelidade doutrinária, sem nenhuma perspectiva de poder. O PSOL tentando ser o PT, que dizem não ser mais. Os movimentos sociais organizados, mesmo presos aos seus interesses corporativos e reivindicatórios, continuam como importantes parceiros das transformações. A academia e a intelectualidade dividida nos ex-esquerda, que deixaram os “sonhos” de lado e sucumbiram em um pragmatismo “racionalizado” e os outros que mantem um aguçado senso crítico, idealizado, mas pouco militante. O governo Dilma parece não ter feito uma correta leitura da conjuntura e assim ainda se auto-impõe limites, maioria dos quais já dissipados pela nova realidade conjuntural, configurando uma correlação de forças distintas do governo passado. A grande mudança nesse espectro politico ideológico encontra-se no PMDB, com uma mudança hegemônica palpável e extremamente interessante. A divisão regional e os interesses paroquiais, comandados pelas oligarquias, vão dando lugar à um PMDB que reproduz o velho e resistente MDB, contraditoriamente com a afirmação de lideranças que unem o partido, com um firme caráter nacional desenvolvimentista. O partido continua de direita, podendo ser chamado de “centro”, sendo extremamente importante na governabilidade institucional. As antigas lideranças oligárquicas “defendem” o governo de forma acrítica, repousando em uma interlocução baseada na chantagem e no fisiologismo. O atual PMDB, mais critico, é ao mesmo tempo mais uniforme e nacional, com um projeto mais nítido, favorecendo uma interlocução mais republicana. Essa realidade conjuntural e a nova correlação de forças, permite ao governo ousar rumo à rupturas que se tornam cada vez mais possíveis e em um jogo dialético, traduzindo as contradições no quadro hegemônico, “aceitáveis” ou (in)compreendidas pela grande mídia. O PT tem de ser o fiador dessa “ousadia”, traduzindo e atuando junto aos movimentos sociais, para um melhor esclarecimento conjuntural e uma ação politica mais efetiva. O PT precisa trazer e resgatar a militância acadêmica e intelectual. Facilitar a politização e um papel militante transformador à classe emergente. Transformar a rebeldia da juventude em ação “revolucionária” organizada e estratégica. E sobretudo, cabe ao PT, uma profunda reflexão do papel de seu militante, na construção da contra-hegemônica.

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